O racismo estrutural é um processo que está intimamente ligado à estrutura social, permeando as instituições sociais, políticas e econômicas. Em uma sociedade como a brasileira, o racismo estrutural pode ser observado, por exemplo, na atuação das forças de segurança pública, no tratamento diferenciado no o aos serviços públicos ou no desrespeito a direitos com base na raça.
O racismo individual e o estrutural são igualmente violentos e excludentes, mas a forma estrutural acaba por criar lugares sociais diferenciados com base na raça, impedindo que as pessoas negras tenham o a espaços, serviços e direitos que conferem dignidade a esses grupos.
Dessa forma, o combate ao racismo estrutural a por um esforço conjunto de toda a sociedade por meio da educação, da construção de uma conscientização em relação aos males do racismo e da elaboração de políticas públicas que confiram dignidade a essas populações.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre racismo estrutural
- 2 - O que é racismo estrutural?
- 3 - Exemplos de racismo estrutural
- 4 - Como o racismo estrutural se manifesta na sociedade?
- 5 - Diferenças entre racismo estrutural e racismo
- 6 - Racismo estrutural x racismo institucional
- 7 - Consequências do racismo estrutural
- 8 - Racismo estrutural no Brasil
- 9 - Como combater o racismo estrutural?
Resumo sobre racismo estrutural
- O racismo estrutural é uma forma de racismo que permeia a estrutura e as instituições sociais.
- Por dispor de um caráter mais amplo, o racismo estrutural se manifesta na educação, na política, na economia, no mercado de trabalho, entre outros.
- Um exemplo de racismo estrutural que pode ser observado consiste no o diferenciado de pessoas negras à saúde, em que, muitas vezes, os direitos são desrespeitados e a vontade desses pacientes é ignorada.
- O racismo estrutural remete às instituições e ao sistema social mais amplo. Por outro lado, o racismo institucional consiste na atuação de uma instituição específica.
- Ao estabelecer uma organização social pautada no privilégio de determinados grupos em detrimento de outros, o racismo estrutural funciona como uma ideologia que inferioriza os negros e os impede de ar determinados espaços ou direitos.
- O combate ao racismo estrutural deve ser um esforço conjunto da sociedade e do Estado. Esse processo pera a construção de políticas públicas, ações afirmativas, educação e participação dessas populações nos espaços de poder e decisão.
O que é racismo estrutural?

O racismo estrutural pode ser compreendido como uma dimensão do racismo que tem origem na estrutura da sociedade, sobretudo nas instituições sociais. O racismo estrutural manifesta sua violência de forma institucional por meio da política, da cultura, da atuação do Estado e das decisões e ações de agentes institucionais.
Todos esses agentes, em seus respectivos contextos, acabam por reproduzir a violência do racismo por meio de políticas públicas, tratamento diferenciado, ações, omissões ou violações de direitos.
Exemplos de racismo estrutural
O racismo estrutural, ao ser compreendido como uma forma de racismo que se reproduz na estrutura social, permeia um conjunto de instituições e relações. Dessa maneira, pode-se observar, como exemplo, a desigualdade salarial, na qual pessoas negras têm, de acordo com dados do Portal Vagas, uma remuneração 42,3% menor em comparação a pessoas brancas, exercendo a mesma função. Além disso, evidencia-se que os negros têm o seu o aos cargos de liderança ou chefia limitado nas grandes empresas.|1|
Ainda, pode-se destacar que o racismo estrutural manifesta-se também na atuação do Estado. Do ponto de vista das forças de segurança pública, evidencia-se que os jovens negros são o público-alvo das abordagens policiais e despontam no índice de letalidade policial.|2| Ademais, na esfera da saúde pública, observa-se que as mulheres negras são alvos frequentes de violência obstétrica e têm seus direitos restringidos no momento do parto.|3|
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Como o racismo estrutural se manifesta na sociedade?
O racismo estrutural, ao se manifestar nas estruturas sociais, opera a violência do racismo por meio das instituições. É importante observar que essas instituições não são necessariamente públicas, mas podem englobar, por exemplo, empresas, espaços recreativos, o comércio e outros espaços institucionalizados.
Nesse sentido, o racismo estrutural, diferentemente do racismo individual — que depende da ação ou intenção para acontecer —, opera sob o manto das instituições. Dessa maneira, ao analisar-se como o racismo estrutural se manifesta na sociedade, pode-se destacar que ele estabelece um padrão institucional e social que cria privilégios para determinados grupos em detrimento de outros.
Assim, pode-se observar, por exemplo, no âmbito do mercado de trabalho, que que jovens negros são a maioria em postos de trabalho informais, mal remunerados ou precarizados no sentido de ausência de direitos. Ademais, pode-se destacar a ausência de representação de grupos sociais negros nos espaços de publicidade e mídia, o que impede a construção de representações sociais negras positivas e compromete a afirmação e constituição da identidade negra.
Diante disso, o racismo estrutural atua como uma barreira que impede a participação ou integração dos negros nos espaços da institucionalidade. Isso implica não somente a participação desse grupo social nos espaços de poder e decisão, mas também o direito a uma existência digna.
Diferenças entre racismo estrutural e racismo
Conforme Silvio Almeida, o racismo tem uma dimensão individual e estrutural.|4| Do ponto de vista individual, verifica-se que o racismo se manifesta, sobretudo, por meio de ações, comportamentos e violências que se localizam no âmbito das relações sociais. Desse modo, essa forma de racismo aparece, por exemplo, por meio de piadas ofensivas, comportamentos ou práticas que discriminam os indivíduos com base em sua raça.
Diferentemente do racismo individual, o racismo estrutural compreende as instituições sociais mais amplas. Desse modo, em seu conceito, não se prevê necessariamente uma atuação intencional dos agentes, mas sim uma perspectiva racista imbricada diretamente na atuação institucional. Assim, pode-se evidenciar que o racismo estrutural é relativo às instituições sociais, tendo bases históricas, culturais, políticas e econômicas.
Racismo estrutural x racismo institucional
Ao compreendermos o racismo estrutural como uma forma de desigualdade racial baseada nas estruturas sociais, torna-se relevante estabelecer uma diferenciação entre o racismo estrutural e a sua forma institucional.
O racismo estrutural tem como referência o sistema social como um todo, ou seja, dispõe de uma temporalidade mais ampla, incorporando bases históricas, culturais, econômicas e políticas que sustentam e fundamentam a desigualdade baseada na raça. Dessa forma, o racismo estrutural dispõe de uma lógica mais ampla, que atravessa as instituições e se reproduz de forma contínua.
Concomitantemente, o racismo institucional tem como referência o racismo estrutural, mas diferentemente do alcance mais amplo do racismo estrutural em termos de estruturas sociais, o modo forma institucional manifesta-se de forma mais localizada.
O racismo institucional refere-se à manifestação do racismo estrutural dentro de uma instituição específica, como a escola, o hospital, a empresa ou um órgão público. Assim, o racismo institucional compreende a manifestação do racismo estrutural em cada instituição específica.
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Consequências do racismo estrutural
Ao se manifestar de forma contínua, abrangente e inserida nas instituições sociais, o racismo estrutural acaba por criar um ambiente de intensas desigualdades sociais, políticas e econômicas. Nesse sentido, ao considerar os negros como inferiores socialmente, o racismo estrutural cria condições que impedem a inserção desse grupo social nos espaços sociais.
Esse processo pode ser observado, por exemplo, na impossibilidade de alcançar postos de trabalho mais elevados, no o a determinados espaços de decisão, como é o caso da política, ou na manutenção de uma imagem negativa do “negro” com base em representações racistas.
Além disso, outra consequência preocupante do racismo estrutural encontra-se inserida no contexto da efetivação de direitos. Por se manifestar institucionalmente, observa-se que determinadas instituições dispensam tratamento diferenciado aos indivíduos com base na raça. Conforme observamos anteriormente, esse processo encontra respaldo na saúde, na atuação das forças de segurança pública, na educação, entre outras.
Racismo estrutural no Brasil
O Brasil dispõe de uma população majoritariamente negra, composta por 55,5% de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo de 2022. Apesar de essa população ser majoritária, evidencia-se que as práticas que envolvem o racismo estrutural são persistentes e constituem um quadro no qual essas populações são submetidas a um contexto de intensa desigualdade.
Dessa forma, o racismo estrutural no Brasil manifesta-se de forma ampla, atuando na cultura, na política e na economia. Esse processo reverbera, por exemplo, na atuação discriminatória por parte das forças de segurança pública, que desempenham, muitas vezes, um tratamento desigual baseado na raça.
Além disso, o racismo estrutural também se manifesta na saúde, nos quais o atendimento a essa população é feito, muitas vezes, ignorando a vontade ou os direitos dos pacientes.
Na educação, ao mesmo tempo, observa-se que, em regiões majoritariamente negras, as condições de ensino são precarizadas e, muitas vezes, até mesmo restringidas ao mínimo. O racismo estrutural no Brasil permeia um conjunto de diferentes instituições e cria um contexto social no qual determinados grupos sociais são subalternizados ou excluídos em detrimento de outros.
Como combater o racismo estrutural?
O racismo estrutural tem impactos significativos na vida das populações negras, sobretudo no Brasil. O combate a essa forma de racismo torna-se importante, principalmente, porque essas formas de violência não apenas vitimam essas populações como também acentuam e perpetuam essa desigualdade.
O combate ao racismo estrutural deve compreender um esforço conjunto, não somente das instituições sociais como também da sociedade. Em razão disso, pode-se observar, no campo das políticas públicas, a criação de instrumentos que permitam a participação de pessoas negras em espaços como a educação, a saúde e a economia.
Assim, pode-se destacar a ampliação de ações afirmativas, o o equitativo à saúde, à moradia e ao trabalho, além de incentivos ao empreendedorismo negro e à produção cultural negra.
Para além de uma atuação no contexto do o, evidencia-se a importância de se estabelecer uma educação antirracista. Esse processo pera a formação de professores e profissionais da educação, a valorização da identidade negra e a conscientização do racismo.
Essas medidas, por sua vez, têm potencial de contribuir para a criação de uma consciência social mais ampla, que compreende a igualdade racial como pilar da vida em sociedade.
Todavia, essa mudança também pera uma modificação na atuação das instituições, revisando práticas institucionais que reproduzem essas desigualdades, a promoção de treinamentos e capacitações que reflitam sobre a diversidade, a inclusão e o antirracismo, além da criação de mecanismos que permitam aos indivíduos realizarem denúncias e que os autores sejam devidamente responsabilizados.
Notas
|1| PORTAL VAGAS. Diferença salarial entre pretos e brancos chega a 42,3% para mesmo cargo de gerência, diz pesquisa. CNN, 2023. Disponível em: <https://brasilescola-uol-br.noticiasdetocantins.com/economia/macroeconomia/diferenca-salarial-entre-pretos-e-brancos-chega-a-423-para-mesmo-cargo-de-gerencia-diz-pesquisa/> o em: Mai. 2025.
|2| FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: FBSP, 2023.
|3| FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Nascer no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2024.
|4| ALMEIDA, Silvio Luiz. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
Fontes
ALMEIDA, Silvio Luiz. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
BERSANI, Humberto. Aportes teóricos e reflexões sobre o racismo estrutural no Brasil. Revista Extraprensa, v. 11, n. 2, p. 175-196, 2018.
OLIVEIRA, Roberta Gondim de et al. Desigualdades raciais e a morte como horizonte: considerações sobre a COVID-19 e o racismo estrutural. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, p. e00150120, 2020.
ROCHA, Andréa Pires; LIMA, Rita de Cássia Cavalcante; FERRUGEM, Daniela. Autoritarismo e guerra às drogas: violência do racismo estrutural e religioso. Revista Katálysis, v. 24, p. 157-167, 2021.